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segunda-feira, junho 25, 2012

Porque é que uma jovem mantém uma relação de namoro violenta?




Normalmente a violência não é uma constante na relação, acontece ocasionalmente, e após o episódio de violência existe a chamada fase de “lua-de-mel”. Nesta fase o agressor procura desculpabilizar-se e desresponsabilizar-se, pedindo desculpa, oferecendo presentes e prometendo que a violência não voltará a acontecer.


As razões pelas quais as jovens mantêm uma relação de namoro violenta são várias, entre as quais: 

1. Gostar realmente do namorado, querer que a violência acabe e não o namoro, e acreditar que poderá mudá-lo.

2. A pressão do grupo:

- Aquilo que as nossas amigas e amigos pensam sobre nós tem muita importância e gostamos de sentir que somos aceites.
- Os namorados normalmente partilham o mesmo grupo de amigas e amigos, o que é que o grupo vai fazer se terminar o namoro? Vai escolher ficar do lado dela ou dele? E se não acreditarem nela, ao saberem os motivos que a levaram a terminar a relação? E se escolherem ficar do lado dele? Os rapazes que são violentos em privado, podem aparentar serem calmos e carinhosos publicamente.

3. A vergonha (por exemplo: de contar à família e amigas/os o que se está a passar)

4. O medo (por exemplo: das represálias, perseguições, ameaças)


É preciso muita coragem para terminar uma relação que não é violenta, torna-se ainda mais difícil quando se trata de uma relação violenta e abusiva.
Custos ao nível da saúde

Segundo o Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial de 1993, do Banco Mundial, as violações e a violência doméstica conduzem à perda de mais anos de vida saudável, entre as Mulheres com idades compreendidas entre os 15 e os 44 anos, do que o cancro da mama, o cancro do colo do útero, a obstrução no parto, a guerra ou os acidentes de viação.
(Sessão Extraordinária da Assembleia Geral das Nações Unidas, “Mulher 2000: Igualdade entre os Sexos, Desenvolvimento e Paz, no Século XXI”)

“As consequências da violência de género são devastadoras. As sobreviventes conhecem, com frequência, um sofrimento emocional durante toda a vida, bem como problemas de saúde mental e de saúde reprodutiva. As Mulheres que foram alvo de abusos estão também expostas a um risco acrescido de contrair o VIH.”
(UNFPA, A situação da população mundial 2005, A promessa da Igualdade, Fundo das Nações Unidas para a População, 2005)


Em termos de saúde, destacamos algumas das consequências para as Mulheres:

- Físicas: fracturas, problemas gastrointestinais, enxaquecas, dores crónicas, hemorragias, aborto espontâneo, homicídio
- Sexuais: gravidezes não desejadas, doenças sexualmente transmissíveis, infertilidade, aborto espontâneo
- Psicológicas: depressão, ansiedade, insónias, fobias, baixa auto-estima, sintomas psicossomáticos, tentativas de suicídio

sexta-feira, abril 27, 2012

Como descobrir se é um possível agressor?



É muito difícil garantir que este ou aquele indivíduo despoletam ou não comportamentos agressivos. É muito difícil reconhecer um perfil de agressor. No entanto, há sinais que não devemos descurar e a que precisamos de estar atentas.

Dormir com o inimigo

Voltamos a falar de agressores para tentar perceber e reflectir sobre os riscos que as vítimas correm, ao partilhar o dia-a-dia com o agressor... Ou melhor, é, sobretudo quando a vítima, já cansada de anos e anos de torturas e maus tratos, resolve, ou encontra coragem para deixar de partilhar o dia-a-dia com o seu agressor, é quando a vítima tenta libertar-se, através da queixa na polícia, da saída de casa ou mesmo do pedido de divórcio, que o agressor mostra uma maior violência, chegando mesmo ao homicídio.
Precisamos, pois, de estar atentas e saber que, se o agressor reunir todo um conjunto de comportamentos, de maneiras de ser e reagir já estudados e já referenciados, então estamos perante alguém que pode vir a cometer ou a revelar comportamentos altamente violentos e, por isso, perigosos.
Por exemplo: será que o seu namorado, companheiro, marido, desde sempre, ou de há algum tempo atrás se vem mostrando com um temperamento agressivo ou instável, mudanças bruscas de humor, comportamento imprevisível?
O seu namorado, companheiro ou marido tem um historial de doenças mentais, ou comportamentos aditivos? E, se sim, está a ter acompanhamento médico?
O seu namorado, companheiro ou marido tem antecedentes criminais? Já cumpriu penas? Porquê?
Estes são indícios de que o grau de violência, ou de risco, existe e pode aumentar.
E se a tudo o que já referimos juntar comportamentos de perseguição, de controlo dos seus movimentos, se mostra ciúmes patológicos e os manifesta desagradavelmente, se o seu namorado, companheiro ou marido tiver acesso a armas de fogo ou armas brancas, se recorre a formas bizarras de violência, então estamos perante um indivíduo que é uma séria ameaça e todos os que vivem à sua volta devem ter consciência disso e tomar as devidas precauções para que não aconteçam situações que todos lamentarão mais tarde, mas que não têm remédio...
Repito: se identifica o quadro de sintomas que acabei de descrever, então, tome as devidas precauções. Está perante um agressor que pode ser ainda mais violento, num qualquer e inesperado momento.

E ainda afirmamos ser um país desenvolvido...nem animais pode-se considerar, porque os animais ainda defendem os da sua espécie....


O que está para lá dos números...

É tempo de, cada um de nós, dar um passo concreto contra a violência doméstica.
A luta passa pelo diálogo, pela discussão, pela afirmação da nossa indignação de forma convicta e clara.

Tivemos ontem acesso a mais um Relatório Anual de Segurança Interna, relativo a 2009.
Os números, sobretudo os que dizem respeito à violência doméstica, são sempre amplamente referidos e, com eles, constroem-se várias dezenas de notícias em quase todos os órgãos de comunicação social.
 São números, mas, afinal, o que querem eles dizer-nos?
Que vivemos num país em que o respeito pelo próximo não está verdadeiramente interiorizado em cada um de nós.

Que vivemos num país em que os direitos humanos não são uma área importante do nosso conhecimento e da nossa prática quotidiana.

Que vivemos num país em que deixamos que a violência coabite connosco, nas nossas casas, dentro das nossa portas e não nos indignamos nem lutamos contra ela.
Em vez de gritar "Não à violência!", estamos cada vez mais a pactuar com ela, murmurando apenas, por cada agressão conhecida, por cada número, por cada mulher assassinada "Coitada, lá foi mais uma...quem nasce sem sorte..."
Basta de conformação. De aceitação de factos consumados. De encolher de ombros ou de suspiros piedosos.
Comecemos a verdadeira luta contra a violência doméstica. Como? Cada um e cada uma de nós, sem medo, deve afirmar as suas opiniões com clareza, provocar conversas sobre o tema, despertar discussões e mostrar-se convicto/a de que, para que a violência em casa acabe, o valor da vida humana deve ser inculcado, impregnado em cada um de nós, independentemente da idade, do género, da cor, do credo, da profissão...
Esta luta, que é uma luta de imposição de diálogo, de discussão sobre o tema, tem que começar cada vez mais cedo. Não esperemos para que, na escola, uma vez por ano, um grupo de alunos vá assistir a mais uma conferência, no 8 de Março ou no 25 de Novembro.
Comecemos em casa. Com o nosso companheiro, com os nossos filhos.
Induzir os mais pequenos em valores como o respeito, a solidariedade, a dignidade, é função da família. Não se demita. Só na luta ganhamos batalhas!

O antes e o depois do agressor


O "antes" e o "depois"

"Por que razão, depois de disparar sobre a mulher, veio para o patamar fumar um cigarro?" 
O antes e o depois

Esta pergunta, feita pela advogada de acusação, no decorrer do julgamento de um homem (?) de 28 anos, que matou a sua mulher a sangue-frio, há quase dois anos, é uma pergunta que revela, nela só, toda a estupefacção, o espanto, mas também a raiva contra a impotência que todos devemos sentir, pelo facto de nada podermos fazer ANTES. Os assassinos, os agressores, os maltratantes, os violadores, os pedófilos, esses, têm a possibilidade e o prazer de... fumar um cigarro, DEPOIS! 
O "antes" e o "depois" de um agressor serão momentos de prazer? Acredito que, por vezes, sim. O prazer de imaginar o que vai e como vai causar sofrimento. O prazer de ter mais força, o prazer de sentir o espanto e a dor que vai causar...para punir, para "ensinar", para exibir.
Segundo alguns especialistas o perfil psicológico do agressor é o de um indivíduo emocionalmente imaturo e possessivo. Um complexo de Édipo exacerbado. A relação de amor-ódio que sente pela mãe é transportada para a mulher.
Exalta-se facilmente, briga por motivos fúteis e reage com muita frequência como se fosse uma criança, que "destrói" o brinquedo, quando este o desagrada.
O "brinquedo", em alguns casos, é a mulher que ele diz que ama, e que é a mãe dos seus filhos.
O "brinquedo" a quem, por um motivo qualquer ou sem qualquer motivo, puxa e arranca os cabelos, atira de encontro à parede e, se por acaso, não o destrói assim, definitivamente, pega numa arma, aponta-lha ao rosto e dispara.
A adrenalina baixa, os maus instintos estão satisfeitos. A sua masculinidade, a sua virilidade, ficaram bem demonstradas.
No "depois", para que o prazer seja completo, só falta mesmo...fumar um cigarro!

Os idosos são outras das vitimas de violência doméstica, algo igualmente inaceitável!


Quem abusa dos mais velhos?

O processo do envelhecimento pode gerar, aos olhos de quem não o conhece ou não o compreende, uma grande dose de repulsa.
Quem abusa dos mais velhos?

Segundo um estudo da IFA, Federação Internacional sobre o Envelhecimento, os autores dos abusos aos mais velhos são, em cerca de 40%, os jovens.
Quais serão afinal os motivos que levam a um resultado deste tipo?
As razões são várias. Umas mais evidentes do que outras.
Em primeiro lugar precisamos de ter a consciência de que, o facto de não nos prepararmos e não prepararmos os nossos filhos para o natural processo de envelhecimento, pode levar a uma grande dose de incompreensão pelos que, já com mais anos de vida, vão perdendo a capacidade de serem ágeis, rápidos ou completamente auto-suficientes. 
O  processo de envelhecimento pode gerar, por quem não o conhece ou compreende, uma grande dose de repulsa, mas sobretudo a ideia de que podemos exercitar o nosso poder sobre quem é mais frágil.

Se, por vezes, há algum exagero na forma como os seniores falam dos mais novos, por outro lado, nós sentimos e vemos exemplos que não nos deixam ter dúvidas quanto à necessidade de começarmos a fazer, como em outros países, uma aproximação intergeracional, desde a mais tenra idade, no sentido de, os mais jovens, perceberem não só a obrigatoriedade de respeitar os outros, sejam eles quem forem, homens, mulheres, brancos ou negros, jovens ou velhos, como de começarem a reconhecer a importância e o saber dos mais velhos.
Ou não será assim?

segunda-feira, março 12, 2012

Violência doméstica é um crime (quase) sem castigo

Nunca as forças de segurança lidaram com tantos casos de violência doméstica. O número de ocorrências registadas na PSP e na GNR já ultrapassou a barreira das 20 mil por ano, mas o de condenações é tão baixo que até "choca" o psicólogo criminal Carlos Poiares.
A violência doméstica passou a ser crime público em 2000. A lei previu a criação de uma rede de casas-abrigo e de centros de atendimento às vítimas, o reforço da possibilidade legal de afastamento do agressor e outros mecanismos de combate.

Cresceu a coragem para romper o silêncio. As forças de segurança registaram 11.162 ocorrências em 2000, 12.697 em 2001, 14.071 em 2002, 17.527 em 2003. A tendência sofreu uma quebra em 2004: 15.541. E recuperou quase de imediato: 18.193 em 2005, 20.595 em 2006, 21.907 em 2007.

Poucos casos, porém, sobem à barra dos tribunais. Em 2000, apenas 213 processos de maus tratos do cônjuge ou análogo chegaram à fase da sentença: 71 resultaram em condenação. Desde a alteração legislativa, houve uma subida tímida, gradual, do número de arguidos: 284 em 2001, 463 em 2002, 680 em 2003, 864 em 2004, 1035 em 2005, 1033 em 2006. E do de condenações: 128, 228, 344, 460, 527, 495.

Os dados provisórios apurados a 19 de Janeiro pelo Ministério da Justiça referem 1480 acusações e 704 condenações de maus tratos do cônjuge ou análogo em 2007. Houve um salto? Não se sabe. O método de recolha foi alterado. Até 2006, contava-se uma acusação ou uma condenação por pessoa: a mais grave. A partir de 2007, explicou José Carlos Costa, do gabinete de imprensa, "passaram a ser contabilizadas todas as acusações e condenações".

Não se pode estabelecer uma ligação directa entre estas denúncias e estas condenações, adverte a procuradora-geral ajunta Joana Marques Vidal: os casos julgados num ano não são os casos denunciados nesse ano; o agressor nem sempre é o cônjuge ou análogo (uma pequena parte das denúncias de violência doméstica diz respeito a menores maltratados por pais e idosos maltratados por filhos); e, quando o é, o acto pode ser enquadrado noutro crime (como ameaça ou injúria).

A também presidente da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima congratula-se com o aumento de condenações. Mesmo sabendo que as denúncias "são uma pontinha da violência doméstica" - e que "as condenações são uma pontinha das denúncias": "Há muitos processos que nem chegam à fase de acusação porque não se consegue prova: muitas vezes, na fase de inquérito, a vítima nega o que disse".

É um crime de grande densidade psicológica. Há ambivalência, justifica Teresa Rosmaninho, da organização não governamental de mulheres Soroptimist. E a pressão exercida sobre a vítima é grande - até dos filhos, que tendem a não querer ver o pai atrás das grades.

Tribunal único

Carlos Poiares avança outras explicações. A violência doméstica é um crime que ocorre entre quatro paredes. Faltam testemunhas. E, quando as há, grande parte prefere não se envolver: "O velho ditado português 'em briga de marido e mulher não se mete a colher' continua a ter aplicação".

"Apesar das campanhas, muitas pessoas aceitam a violência doméstica com alguma normalidade", observa Poiares. E, por vezes, a imagem que o agressor passa para o exterior "é de grande dedicação". Se se pergunta aos familiares e amigos se há violência, "juram que não". E acontece o agressor minar a reputação da vítima, "dizer que se mete nos copos".

Na opinião do professor da Universidade Lusófona, "os dispositivos de controlo social têm de ser mais eficazes". Joana Marques Vidal também foca a necessidade de "uma recolha rápida e eficaz [de prova] na fase inicial" do processo. A nova legislação confere urgência a estes casos, o que lhe parece positivo. Todavia, a recolha de prova "tem de evoluir". Em Espanha, por exemplo, há equipas multidisciplinares, médico legista e psicólogo incluídos, que actuam logo.

Esta semana, numa audição parlamentar promovida pelo Bloco de Esquerda, Elisabete Brasil, da União de Mulheres Alternativa e Resposta, defendeu "um único tribunal" para tratar de casos de violência doméstica. Acha que este seria "um sistema que potenciaria um ressarcimento às vítimas".

Teresa Rosmaninho advoga relatórios sociais sobre as vítimas, como os que se fazem sobre quem é acusado de cometer um crime. Está convencida de que os juízes tomariam "decisões mais justas" se conhecessem todas as implicações. Se soubessem, por exemplo, "que a vítima ficou sem emprego porque o agressor ia lá, que a vítima perdeu o apoio da família porque o agressor ia lá".