"Há já algum tempo que ele não me agredia, o que me convencera de que
finalmente o pesadelo tinha acabado. Não podia estar mais enganada. A
Alexandra entretanto pediu para ir à casa de banho. O meu marido
aproveitou a sua ausência da sala e pegou-me no braço para me levar para
a cozinha. Não percebi o que ele queria e honestamente nem imaginei que
me pudesse bater. Afinal estavam pessoas em casa. A ideia era tão
disparatada que não me passou pela cabeça que o pudesse fazer. Mas fez.
Assim que passámos a porta agarrou-me na cabeça e bateu com ela na
parede.Duas, três vezes. desatei a gritar, com quanto ar tinha nos
pulmões. Ele irritou-se ainda mais. Começou a dar-me pontapés,
apertou-me o pescoço e começou a dar-me com a cabeça na parede, ao mesmo
tempo que me insultava, chamando-me "cabra" e "puta". Estava fora de
si. De repente parou. A minha amiga estava chocada. Sabia que ele me
batia, mas nunca pensou que o fizesse praticamente à frente de outras
pessoas. Depois gritou comigo. Disse-me que eu tinha de acabar com
aquilo antes que "ele me matasse". Que era uma "vergonha", que ninguém
entendia como é que eu suportava tal situação.Nem eu entendia bem.
Aguentava porque, de cada vez, convencia-me a mim própria de que ele
nunca mais voltaria a fazê-lo.Que seria a ultima vez."
....
"
E como não fazia nada, o José Maria continuava. Cada vez com mais
força, com mais falta de respeito. Já nem havia motivos, razões ou
pretexto. Era violência pura, pelo simples gosto de bater-me...o meu
filho disse-me que tinha medo que eu morresse. Não podem imaginar o
efeito destas palavras numa mãe. É como se alguém nos acordasse de um
coma profundo. Foi isso que senti. A ideia de os meus filhos poderem
ficar sozinhos, sem mim, era dramática, insuportável."
CONTINUA...
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